Estava diante a um quadro branco. Solicitaram-me que eu deixasse traços, algo que pudesse ser usado como a minha identificação. Passei tempos olhando para aquele quadro. Escrever? Desenhar? Rabiscar? Não fazia ideia do que poderia ser marcado ali... Então me senti vazia. Tomei um susto com essa “descoberta” e já olhava o quadro com desgosto. Um desprezo que eu estava oferecendo a mim. Não me contentei! Precisava ocupar aquele quadro assim como minha alma habita em meu corpo. Mas não estava conseguindo e isso me ocasionou várias hipóteses indesejáveis sobre minha existência... Será eu um ser resultante de características menos consideráveis? Será que não poderia atribuir-me uma identificação satisfatória? Será que nenhum vocábulo, nenhum traço, nenhuma imagem poderia representar-me? Fechei meus olhos e deixei minha consciência guiar-me. Quando abri os olhos, meus dedos haviam contornado linhas... Essas linhas eram exatamente quatro, seus lados paralelos dois a dois, usufruindo de todas as extremidades do quadro branco. Eu havia criado minha identificação! Havia agora naquele quadro branco, outro quadro: vazio! Eu havia descoberto a mim. Eu sou um quadro branco! Posso ter muitas identificações. Posso ser nenhuma marca registrada, posso ser qualquer uma e ou todas. Sou permissível. Sou infindável. Posso parecer nada, mas sou exatamente a viabilidade de um tudo!
Dayane Carneiro!